domingo, 10 de julho de 2011

A verdade vem sempre ao de cima # 6

Saíram do hospital e entraram num pequeno café que havia ali perto. O dia estava já a aclarar. 
- Já ligaste aos teus pais ?
- Não. Não queria alarmá-los. Eu estou bem e a minha mãe ia logo ficar com o coração nas mãos. 
- Sim, mas não foste dormir a casa, devias ligar-lhe. 
- Ainda é cedo, eles ainda devem estar a dormir. Quando acabarmos de comer já lhes ligo para nos virem buscar. E tu ? Os teus pais devem estar aflitos... 
- Eu falei com a minha mãe quando estavas lá nos exames. Já estava aflita, coitada. Mas ela percebeu. 
- Só faço asneiras... - disse, baixando o olhar. 
- Já passou, o que importa é que estás bem. 
- Sim, mas não é isso. Arrastei-te práqui assim... 
- Não sejas tolo, eu vim porque quis! Agora explica-me, o que é que aconteceu ontem que eu ainda não percebi muito bem. 
- Ontem quando saí da festa fui deixar a Melanie a casa, eu estava frio, distante, não lhe liguei nenhuma e ela fez uma cena. Deixei-a a falar sozinha. Estava passado. Não me saias da cabeça. Perguntava a mim mesmo como podia ter sido tão estúpido, tão cobarde. Sabia que te tinha magoado. A maneira como falaste comigo, como me olhaste com desdém... Meti-me no carro e ia para casa, sempre a acelerar bué. Aquela curva é perigosa, ainda por cima tem areia e pronto, lá fui eu. Pensei que ia morrer ou sei lá. Bati com a cabeça no volante várias vezes. O carro parou e eu pensei «estou vivo! sobrevivi!» Não sei muito bem como consegui sair do carro e foi então que te liguei. Pensei que não ias atender. 
- Na verdade, atendi sem querer. 
- Eu calculei, mas ainda bem que isso aconteceu, ainda bem que me deste a oportunidade, mesmo sendo sem quereres. 

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